
A antiga primeira-ministra britânica Liz Truss lamentou a falta de apoio do seu partido conservador e do «poderoso estabelecimento económico» durante o seu breve mandato, durante o qual nunca usufruiu de «uma oportunidade real» para implementar as suas políticas.
Na sua primeira avaliação detalhada do seu mandato numa carta publicada na edição de domingo do Telegraph, Truss reconheceu no entanto que não estava «irrepreensível» pela política económica catastrófica apresentada pelo seu ministro das finanças, Kwasi Kwarteng.
Kwarteng foi demitido em meados de Setembro, após apenas uma semana no cargo, depois de tanto os mercados como os próprios membros do Partido Conservador terem questionado a sua proposta de reforma fiscal, um episódio que finalmente levou a Truss com a sua própria primeira-ministra durante seis semanas.
O Executivo pôs em cima da mesa 45 mil milhões de libras esterlinas de cortes fiscais que não convenceram nem o ambiente financeiro nem o político e, em termos monetários, colocaram a libra nas cordas. Em poucos dias, a Truss foi forçada a retirar a proposta de reduzir o imposto sobre os rendimentos dos ricos de 45% para 40%.
«Não pretendo ser inocente do que aconteceu mas, fundamentalmente, não tive uma verdadeira oportunidade realista para decretar as minhas políticas devido a um estabelecimento económico muito poderoso, associado a uma falta de apoio político», escreveu o ex-primeiro-ministro.
«Enquanto eu antecipava a resistência ao meu programa desde o estabelecimento, subestimei a extensão do mesmo, tal como subestimei a resistência dentro do bloco parlamentar conservador à desregulamentação da economia», acrescentou ela.
Truss também acusou o Gabinete de Responsabilidade Orçamental (OBR) de colocar a política fiscal num «colete-de-forças», antes de expressar desacordo com a sua avaliação do impacto dos cortes fiscais propostos.
A ex-primeira-ministra também afirmou não ter sido avisada dos riscos para os mercados obrigacionistas decorrentes de investimentos com base em responsabilidades (LDIs), adquiridos por fundos de pensões, o que forçou o Banco de Inglaterra a intervir para evitar o seu colapso à medida que os custos de empréstimo do governo aumentavam.
«Infelizmente, o governo tornou-se um bode expiatório útil para problemas que tinham vindo a surgir há vários meses», disse ele.
Truss estendeu as suas críticas à esfera internacional. «Houve um esforço concertado de actores internacionais para desafiar o nosso Plano de Crescimento», disse, referindo-se às críticas e ao cepticismo demonstrado pelo Presidente dos EUA Joe Biden e por funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI).
«O FMI comentou os aspectos distributivos em vez da estabilidade do mercado, pelo que é difícil concluir que eles não estavam politicamente motivados a fazer estas declarações», lamentou ele. «Algo tinha de ser feito», acrescentou ele. «O status quo não era uma opção.
Ainda assim, Truss quis terminar com uma nota de optimismo. «Embora lamente não ter sido capaz de implementar todo o meu programa, se formos ousados e empreendedores e dermos às pessoas e empresas a liberdade de que necessitam para terem sucesso, acredito que podemos fazer a diferença. Há esperança para o futuro», concluiu ele.
Fonte: (EUROPA PRESS)






