Cerca de 20.000 pessoas foram deslocadas desde Agosto por combates no estado nordeste do Alto Nilo no Sul do Sudão, disse quarta-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), expressando «alarme» perante o «crescente desespero» causado pelo conflito entre facções armadas.
Os combates eclodiram a 15 de Agosto na cidade de Tonga, mas desde então espalharam-se por outras cidades do Alto Nilo, Jongley e Unidade, uma situação que provocou a fuga de cerca de 3.000 pessoas para o Sudão, agravando a crise dos refugiados do Sul do Sudão no país africano.
«O desespero cresce e mais pessoas fogem à medida que o conflito se intensifica», disse o representante do ACNUR no Sul do Sudão, Arafat Jamal. «Os civis estão a ser alvo deste conflito implacável. Temos de assegurar que eles sejam protegidos», disse ele.
Mulheres, crianças e outros grupos de alto risco constituem a maioria dos deslocados, enquanto alguns idosos e deficientes foram incapazes de fugir e tiveram de se esconder em zonas de mato nas margens do Rio Nilo Branco durante os ataques. Os deslocados estão também «visivelmente traumatizados» e denunciam assassínios, violência baseada no género, raptos, extorsão, pilhagem e queima de propriedade. Muitas das pessoas afectadas perderam as suas casas ou foram separadas das suas famílias.
Jamal liderou na semana passada a primeira visita multi-agências à aldeia de Adidiang desde que foi atacada a 7 de Setembro, levando 4.000 pessoas a fugir para Malakal e procurar refúgio no campo de deslocados internos da cidade, dirigido pela Missão de Assistência das Nações Unidas no Sul do Sudão (UNMISS). A instalação foi criada há dez anos para albergar 12.000 pessoas, mas agora tem 37.000 residentes.
Sobreviventes do ataque a Adidiang relataram que dezenas de pessoas foram mortas ou feridas, enquanto outras se afogaram ao tentarem atravessar um rio para escapar ao ataque. A missão também visitou a aldeia de Diel em Jonglei no domingo, onde algumas pessoas deslocadas estão a regressar para encontrar as suas casas queimadas.
«Em Adidiang e Diel testemunhámos os resultados de uma violência brutal. Foi desanimador ver um padrão claro de ataques a civis nas suas casas», disse Jamal. Alguns dos deslocados que regressaram a Diel estão a alimentar-se de plantas aquáticas para sobreviver. Como resultado, o ACNUR e outras ONGs intensificaram a sua resposta para dar apoio às pessoas mais vulneráveis, incluindo a utilização de barcos para expandir a capacidade de resposta móvel, inclusive em áreas de difícil acesso. A agência observou que 6,8 milhões de pessoas necessitam de assistência devido a conflitos armados, violência, inundações, insegurança alimentar e crise económica, mas apenas 46% dos 214,8 milhões de dólares (cerca de 204,5 milhões de euros) de financiamento para a resposta foram recebidos até à data este ano.
O Sul do Sudão tem um governo de unidade que surgiu na sequência da materialização do acordo de paz de 2018. Apesar do declínio da violência devido ao conflito político, o país tem assistido a um aumento dos confrontos intercomunitários, motivado principalmente por roubos de gado e disputas entre pastores e agricultores nas áreas mais férteis do país, especialmente devido ao aumento da desertificação e deslocação de populações.