![Arquivo - Ex-presidente queniano Uhuru Kenyatta Arquivo](https://www.news360.es/wp-content/uploads/2022/12/fotonoticia_20221201120143_1920-5.jpg)
O ex-presidente queniano Uhuru Kenyatta, que está a mediar o conflito no leste da República Democrática do Congo (RDC), disse que dezenas de grupos armados que operam na zona estão dispostos a «depor as armas» se for possível chegar a um acordo para uma paz «duradoura».
Kenyatta disse ao diálogo intercongolês mediado pela Comunidade da África Oriental (EAC) que tinha pedido aos participantes que «abrissem os seus corações e explicassem como vêem o problema». «Confirmaram que estão prontos para depor as armas», disse ele.
«Disseram-me também porque pegaram em armas e que querem uma paz duradoura para as depor. Estou feliz por nenhum grupo armado se recusar a depor as armas, todos eles aceitam», disse ele, tal como relatado pela estação de rádio congolesa Radio Okapi.
Salientou que «há coisas para ver e analisar para que todos deponham as armas e para que a paz duradoura que todos procuram possa ser alcançada», no quadro de um processo que conta com cerca de 350 participantes, entre os quais 50 representantes de grupos armados que lutam no leste da RDC.
Kenyatta também pediu perdão pela «dor das atrocidades cometidas» ao longo dos últimos 20 anos. «Perderam-se vidas, animais e minerais foram roubados por nações estrangeiras que fomentam conflitos enquanto roubam minerais, deixando os vossos filhos fora da escola e as vossas mães incapazes de dar à luz no hospital», disse ele.
«A RDC pertence aos congoleses e não estamos aqui para discutir como é que um centímetro de território deve ser cortado. O nosso é um processo para encontrar formas de coexistir e resolver conflitos que surgem entre vós sem ter de pegar em armas», disse o mediador da EAC, segundo o diário queniano ‘The East African’.
Neste sentido, também defendeu a resolução das tensões entre a RDC e o Ruanda sobre o Movimento 23 de Março (M23), no meio de acusações de Kinshasa contra Kigali pelo seu alegado apoio ao grupo rebelde, antes de reiterar que para o fazer «todas as armas nas mãos de grupos armados devem ser silenciadas e entregues ao governo».
Kenyatta salientou também que a M23 «não pode fazer parte» das conversações até se retirar das cidades que ocupa no leste da RDC. «O processo em curso envolve apenas grupos armados dispostos a depor as armas e a pôr fim às hostilidades», disse ele.
Entretanto, o Presidente ruandês do KAGAME, Paul Kagame, salientou que Kigali é a favor da paz no leste da RDC e argumentou que «este problema seria facilmente resolvido se não houvesse um país que se dirigisse às eleições no próximo ano e não estivesse a tentar criar uma emergência para as adiar».
Acusou o seu homólogo congolês, Felix Tshisekedi, de alimentar o conflito e reiterou que o Ruanda «não se envolverá em escaramuças evitáveis e não se enraizará na integridade territorial dos outros». «Pedimos que este seja também o caso para nós», disse ele.
Kagame apelou, portanto, a esforços colectivos para enfrentar a ameaça de segurança colocada pelo grupo armado Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR) – composto por extremistas hutus, alguns dos quais são responsáveis pelo genocídio ruandês – e recusou-se a culpar o Ruanda sozinho pelo problema.
«É lamentável que se tenha tornado conveniente que todos os problemas caiam sobre os ombros do Ruanda. Somos sempre nós os culpados», lamentou, como noticiado no diário ruandês ‘The New Times’.
«Comparando Ruanda e RDC, há muito mais que o nosso vizinho tem para oferecer, pelo que estas pessoas têm de ter cuidado ao lidar com os problemas congoleses e até aliviar os problemas culpando o Ruanda», disse ele, antes de reiterar que Kigali não apoia a M23.
O presidente ruandês salientou que «o M23 não é um problema do Ruanda». «A certa altura, permitimos-lhes permanecer nos nossos campos como parte de um processo para resolver o problema, a pedido da RDC», explicou, referindo-se ao acordo de paz assinado entre Kinshasa e o grupo rebelde em 2014.
«Estou a começar a acreditar em algo em que nunca acreditei. Já passou tanto tempo que não o posso evitar. Alguém, algures, quer que este problema exista para sempre porque há tantas coisas em jogo», advertiu, antes de criticar a «narrativa desde 1994» de que «os perpetradores e as vítimas (do genocídio) são os mesmos».